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terça-feira, 2 de novembro de 2010

Brasília e o Cerrado 11 mil anos de história

Sou Braulio Calvoso. Nasci em Goiânia e morei aí até 1986, quando comecei a fazer estágios de vida em outros lugares, vindo parar em Brasília.Estou escrevendo um livro, que pretendo fazer com que chegue às mãos dos alunos de todo o Distrito Federal. Vamos fazer uma versão resumida do trabalho, que tem uma gama de referências grande. 
  Estou publicando um pouco das informações sobre o trabalho que estou escrevendo e mandar-te-ei então um desses resultados, que muito me chamam a atenção.
      Eu estou buscando oportunidades de publicar trechos da minha pesquisa, pois isso é importante para o empreendimento que pretendemos tocar aqui em Brasília, buscando recursos para a instalação de um grande centro de atividades de senso-percepção em Educação Ambiental. 
    

SINOPSE

Brasília e o Cerrado

11 mil anos de história



Uma perspectiva ambiental da ocupação do cerrado




Apresentação:

Sempre que ouvimos falar da história de Brasília, percebemos que a abordagem privilegia aspectos de sua arquitetura, seus palácios e os inovadores pensamentos da modernidade arquitetônica. Consideramos ser louvável o mérito e motivo de orgulho para todos nós. Nesse livro abordaremos a história da capital sob uma visão global da ocupação humana, especificamente dentro do ambiente ecossistêmico chamado Cerrado, com especial enfoque na interação homem/ambiente. Embora a história seja o norte através do qual as informações foram organizadas, a visão que pretendemos imprimir nesse trabalho é uma recomendação da Conferência de Tbilisi (Geórgia, antiga União Soviética, 1977), que define o Meio Ambiente como um conjunto de fatores, dentre eles a cultura. Sendo assim, defendemos a idéia de que o conjunto das culturas aqui desenvolvidas tem um valor de dimensão ambiental e que justifica a sua necessidade de figurar na formação do conceito de meio ambiente. Para alcançar tal objetivo, oferecemos ao leitor uma verdadeira viajem, cheia de peculiares modos de interação com o ambiente, incluindo os sabores e festas dessa região que representa não apenas 1/3 da biodiversidade do planeta, mas um conjunto de tradições valoroso na formação de nossa identidade, e que não deve passar desapercebido.
Começaremos pela ocupação humana do Cerrado na pré-história, investigando quais as formas de interação e as técnicas de sobrevivência e de manejo da fauna e da flora desenvolvidas dentro desse importante ecossistema da biosfera. Descobriremos nessa saga que há um conjunto de tecnologias muito anterior à chegada dos bandeirantes no século XVII, que dão importantes referências de convivência com o bioma em questão, e mostram que aqui no Cerrado, assim como no restante do Brasil, haviam sociedades mais adiantadas do que se poderia supor, e que utilizava princípios de “engenharia biomecânica” para a execução de tarefas de grande porte, ou que dependessem de uma tarefa específica, muitas vezes perigosa e outras vezes até especializado. 
Para proteger suas casas, por exemplo, os Kaiapó, um das dezenas de povos que passaram por essa região, mantinha um exército de formigas sob seu controle, modificando uma trajetória que é organizada por um processo delicado de comunicação entre essas mesmas formigas, para determinar a sua orientação espacial; esses mesmos povos quando queriam prevenir-se de enchentes no cerrado amazônico convocavam um batalhão de peixes-boi, confinando-os em locais específicos para prestarem um serviço temporário; para a defesa contra animais perigosos utilizavam queimadas controladas por época e por espécie a ser afetada pelo fogo; ainda assim, utilizavam-se da natural migração de animais de maior porte para a disseminação de sementes, em espaços estrategicamente definidos, para que as suas viagens entre uma tribo e outra não ficassem desprovidas de suprimentos. Hoje em dia nós utilizamos as lojas de conveniência e os postos de combustíveis para o  abastecimento de nossos carros e também para a nossa alimentação.
Essa impressionante capacidade de adaptação do homem, nos levará à surpreendente (re)descoberta das técnicas de sobrevivência de baixo impacto ambiental no ambiente, deixados como importantes referências pelos povos pré-colombianos que aqui habitaram e que foram chamados de índios. Não podemos nos esquecer de que essa é somente uma das nações indígenas de que se tem notícia. Estima-se que no momento em que Cabral chegou aqui a população de índios era em torno de 2,5 a 4,5 milhões de pessoas já habitando o território que viria a ser chamado Brasil. Somente no cerrado há uma estimativa de 50 povos, com pelo menos 300 mil almas, dos mais de 180 povos catalogados pela FUNAI. Mostraremos o que esses povos comiam, e o que as mais recentes pesquisas da EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) fala desses alimentos, dando dicas de aproveitá-los em nossa alimentação.
Passando essa fase dos primórdios da efetiva ocupação humana do Cerrado, que abrange cerca de 15 a 12 mil anos antes do presente (A.P.) até a chegada das bandeiras no século XVII, mostraremos os principais traços de uma cultura que se desenvolveu no Cerrado após a chegada dos bandeirantes, e que forneceu a nossa herança caipira.
Considerando que o conceito de Meio Ambiente definido pela ONU: “meio ambiente é composto de: fatores bióticos + abióticos + cultura” (Conferência intergovernamental sobre o ambiente humano – Tbilisi-Geórgia, 1977), levantamos nesse livro alguns aspectos que muitas vezes não são contemplados em outras publicações sobre a temática ambiental. Levando em conta que o tema ambiental é transversal (ou seja, contempla várias disciplinas entrelaçadas em um único enunciado), pretende-se aqui mostrar como aspectos de supremo valor ambiental podem ser inseridos em uma proposta de trabalho atualizada sobre os fatores bióticos + abióticos + cultura, que compuseram a formação e a transformação desse ambiente onde hoje se encontra a nossa capital federal.  
Para que essa proposta não ficasse apenas no plano dos conceitos ultrapassados sobre meio ambiente, dando-lhe um enfoque reducionista e cometendo o mesmo deslize de abordagens anteriores, elegemos alguns aspectos culturais representativos, como: a formação do dialeto e da música caipira e a contribuição da linguística para entender como a mistura de línguas européias e indígenas atuou e ainda atua nesse processo. Veremos uma variação de dialeto em uma comunidade rural próxima a Brasília que até hoje fala sob a influência do hneengatu (língua geral), língua essa deixada de herança pelos bandeirantes e como eles conseguiram preservar essa variação lingüística por mais de duzentos anos. Com isso pretendemos mostrar como trabalha a ciência chamada de sociolingüística. Veremos um sistema convivência e de festas particularmente rico e desenvolvido aqui na região onde seria construída a nova capital. Esses sistemas de festas ficaram muito famosos por conjugarem trabalho e diversão em um único pacote, mostrando técnicas e práticas de aumento da qualidade no ambiente de trabalho, em modos simples, inadequadas aos dias de hoje, mas muito eficientes, de motivação para o trabalho e alcance de resultados imediatos na produção de alimentos e no fortalecimento dos vínculos sociais entre esses povos.
Para contemplar a dimensão biótica do tema Meio Ambiente, sempre orientados pelo prumo da cronologia histórica dos fatos, resolvemos trazer à luz as primeiras explorações científicas empreendidas no ambiente de Cerrado, a origem dessa denominação e seus subsistemas, para depois argumentar sobre o valor do capital natural aqui concentrado, que só perde em biodiversidade para a Amazônia e é o mais rico do planeta em sua categoria.
Na parte que da escolha da área onde depois seria construída a nova capital, teremos oportunidade de demonstrar como os critérios de escolha dessa área podem nos ajudar a pensar e planejar as nossas construções no futuro e a ocupação dos tipos de ambientes que se transformarão em uma cidade. Veremos que noções de engenharia hidráulica, civil, geografia, geologia, climatologia e outros ramos do conhecimento nos ajudarão a compreender o complexo início dos preparativos para a construção da capital. Com mais essas pulverizações de informações multidisciplinares, cremos que o leitor possa entender como o processo de elaboração de um ambiente tem em seus bastidores tantas precauções necessárias para a transformação de um ambiente natural em um ecossistema urbano.
Veremos alguns impactos que essa ocupação causou em um sistema cultural que havia sido desenvolvido ao longo de quase duzentos anos. Com isso entenderemos também que a segunda transformação ambiental do Cerrado foi muito profunda com a chegada da nova capital; causou uma revolução na forma de habitar e explorar o ambiente.
Para que fosse possível produzir alimentos para uma população que cresceria muito, os especialistas descobriram como modificar a composição química do solo do Cerrado para sustentar uma agricultura de grandes proporções. Isso mudou a capacidade deste mesmo solo de fornecer nutrientes às plantas, para que essas espécies vegetais que vieram de outro ambiente, pudessem se desenvolver adequadamente. Somente isso possibilitou uma produção agrícola jamais imaginada pelos que habitavam essa região desde a chegada dos bandeirantes. Dessa forma pretendemos dar condições de você entender o que aconteceu nos solos do cerrado para que fosse possível se alimentar com produção própria aqui hoje. Essa visão de meio ambiente que abrange aspectos de variadas fontes de conhecimento (transdisciplinar), é recomendada pelos PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais). 
Mantendo a orientação inicial de usar a história como prumo cronológico para a elaboração dessa obra, abordando o tema de forma transdisciplinar, o presente trabalho estabelece uma relação sincrônica entre os primórdios da construção de Brasília e o grito de alerta dado pelo mundo. Essa abordagem é importante para mostrar em que momento Brasília nasceu, e o que estava acontecendo em nível mundial quando Brasília saiu do papel e se transformou em motivo de celebração na história da arquitetura mundial. Queremos dar a todos a oportunidade de mostrar Brasília como uma cidade que tem o seu nascimento marcado por uma mudança no mundo, não somente na arquitetura, mas que o surgimento dessa cidade está sincronizado com  um novo tempo, de novas relações com o ambiente. Vemos como oportuna a demonstração de que Brasília contribui para as novas tendências arquitetônicas mundiais, mas ao mesmo tempo nasce em um momento em que o modelo de desenvolvimento, que sempre dominou o mundo desde a revolução industrial, deve agora ser repensado. Para isso precisamos de informações que nos deem suporte para o desenvolvimento de um raciocínio crítico.
Daí a proposta de mostrar o que aconteceu no Cerrado antes da construção de Brasília e no mundo enquanto Brasília estava sendo construída; queremos que o leitor tenha a chance de entender os principais eventos de caráter histórico com uma visão de enfoque transdisciplinar a respeito da: história de Brasília, assim como da formação e das transformações do ambiente onde ela está inserida; com isso pretendemos oferecer condições para que o leitor possa enxergar os valores do patrimônio ambiental do Cerrado, que incluem o seu capital imaterial, ou seja, os aspectos culturais.
Depois de entender o que foi produzido pelo homem no Cerrado em vários aspectos, incluindo aí a construção de Brasília, que a todos os brasileiros interessa, procuramos então investigar e demonstrar como surgiu a necessidade de pensar o mundo de forma holística (do grego: holos = universal), (diferentemente da forma fragmentada que se tinha de estudar e de armazenar conhecimentos), e como isso se refletiu em uma nova forma de educação, chamada agora de Educação Ambiental (EA). E para demonstrar o quanto a EA é importante para o nosso futuro, no decorrer da obra o leitor poderá constatar algumas consequências de determinados modelos de produção econômica e de exploração do ambiente e de extermínio de culturas. Não satisfeitos com essas citações, ainda listamos em capítulo à parte, algumas consequências de um mundo desequilibrado, fora da sintonia com o ritmo e capacidade de regeneração de nossa biosfera, mas desta vez chamando a atenção para efeitos de nível global. 
Dentro de uma orientação pedagógica a respeito de Educação Ambiental, elegemos algumas definições de especialistas sobre o conceito de desenvolvimento, para que o leitor depois possa formular o seu próprio conceito, ou pelo menos começar a fazê-lo. Essa é a forma com a qual queremos dar uma contribuição para um modelo de desenvolvimento e uma prosperidade que todos queremos, mas a um custo que todos possamos pagar juntos.
Na esteira do pensamento sugerido em várias conferências sobre Meio Ambiente, cuja premissa é: “pensar global e agir local”, listamos algumas receitas típicas, preparadas com produtos do Cerrado, e que são facilmente encontrados em rodovias de acesso a cidades do entorno do DF, ou mesmo em supermercados. O objetivo de divulgar essas receitas é um meio de disponibilizar ferramentas para que o leitor possa encontrar formas de contribuir para o sustento de comunidades que vivem da exploração sustentável do Cerrado, ao mesmo tempo em que ingere uma alimentação mais saudável, o que encerra um importante ciclo de ações de E.A., que tem por objetivo proporcionar, em última instância, qualidade na relação do Homem com o Ambiente.
Em um outro capítulo, ainda na esteira do lema “pensar global e agir local”, oferecemos algumas dicas de manutenção eco-eficiente de espécies vegetais, de baixo impacto ambiental, para que possam ser utilizadas em casas ou apartamentos, passadas de pais para filhos, e de amigos para amigos.
Dessa forma pretendemos dar nossa humilde contribuição para a nossa educação, dando dicas de atitudes locais, mostrando objetivamente algumas ações que podem ser feitas com espírito de cooperação, mas, principalmente, com muito prazer em ler, trocar informações e exercitar algumas atitudes com mais prazer, em respeito às necessidades de nossa terra, nosso bioma, nossa casa.
 A nossa postura em relação ao ambiente será sem dúvida mais produtiva se conhecermos primeiro os valores e heranças locais, para podermos inclusive nos atualizar em relação a culturas exóticas, pois só é possível preservar o que conhecemos, e só podemos valorizar o que entendemos.
Quisemos partilhar com o leitor a visão de que Meio Ambiente é um tema que vai muito além fauna e flora, e que os aspectos da formação da identidade cultural fazem parte de estratégias para a sobrevivência de qualquer povo, tão importantes quanto táticas de sobrevivência numa selva ou num deserto.
Ainda que a obra proposta já tenha até aqui uma visão um tanto quanto inovadora de contar a história de Brasília, pelo viés de seus bastidores, outros fatores influenciaram a escolha de parâmetros para a espécie de abordagem ambiental que propomos, como, por exemplo, a utilização das ciências humanas como uma grande fonte de inspiração, bem como o caráter transdisciplinar que permeou a obra desde a sua concepção. Isso ocorre pelo fato de que alguns aspectos da abordagem ambiental sempre são esquecidos ou deixados de lado quando se fala respeito da temática ambiental, - como se meio ambiente fosse apenas e tão somente um interesse das ciências biológicas e das engenharias (ambiental, agronômica etc.), mas também pelo fato de que nos orientamos sob o paradigma holístico, em contraposição ao paradigma cartesiano, que organiza o conhecimento em compartimentos estanques, sem estabelecer relações entre as disciplinas.
Sem jamais deixar dimensão biótica de Meio Ambiente de lado, queremos mostrar aspectos muito interessantes e ainda pouco explorados nas disciplinas chamadas humanidades, mostrar o seu valor dentro da temática ambiental e o papel capital que elas têm na elaboração de sistemas sócio-interativos, pois que aperfeiçoam modelos de pensamento e promovem a sobrevivência e a evolução das sociedades, seja em que qualquer época ou cultura.
Por volta da década de 1940, o cientista chamado Albert Einstein conversava com um industrial muito famoso nos Estados Unidos, inventor de vários produtos que usamos até hoje, e este homem rico, poderoso e com um senso de praticidade muito aguçado, dissera que as ciências humanas eram inúteis por que não ajudavam na produção de bens de consumo para a sociedade. Ele realmente desprezava as ciências humanas, tanto que sua indústria não contratava nenhum funcionário que tivesse formação nessa área. Então Einstein esperou calmamente que ele terminasse a sua crítica e disse para esse industrial que as ciências humanas são importantes, pois ensinam a pensar. Concordamos com ele a respeito disso e pretendemos, principalmente, dar a oportunidade de o leitor pensar o tema Meio Ambiente de forma mais abrangente do que se propõe em muitos anúncios de produtos na televisão, ou em campanhas de puro marketing ambiental.
Acreditamos então que o papel desse livro é o de ser mais uma ferramenta para pensar, elaborar conceitos maduros e, acima de tudo, manter acesa a chama da curiosidade que toda criança tem, e que sempre merece mais uma chance de permanecer acesa.  

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